12/07/15

Ser voluntário por amor

O trabalho voluntário dignifica quem o pratica e é gratificante. Apoiar as pessoas, as famílias e a comunidade, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida e do seu bem-estar, é algo que está ao alcance de todos nós

Numa sociedade cada vez mais egoísta e voltada exclusivamente para si própria, ainda há valores que devemos enaltecer. Um deles é o trabalho de voluntariado. Há muitas instituições, sobretudo não-governamentais, que congregam apoios muito importantes para as populações, especialmente as mais carenciadas, e que passam essencialmente pelo trabalho gratuito de muitos milhares de pessoas. A comunicação social vai dando eco de algumas, e isso verifica-se essencialmente quando estas efetuam campanhas periódicas, abrangendo os mais diversos setores. Mas há também aquelas que se dedicam a causas mais específicas e com objetivos bem delineados. Neste número estão desde as grandes Organizações Não Governamentais (ONG) que trabalham em Portugal e no estrangeiro, assim como pequenas instituições que exercem um papel primordial nos setores a que se dedicam. Umas e outras são imprescindíveis na sociedade atual.

Mas afinal o que é ser voluntário? É dar, de forma livre, desinteressada e responsável o seu tempo em favor dos indivíduos, famílias e comunidade, isto consoante as suas aptidões, colaborando no desenvolvimento dos objetivos traçados. Trabalhar como voluntário é ter um ideal por bem fazer, que assenta numa relação de solidariedade traduzida em gratuitidade no exercício da atividade, prestando serviços não remunerados em benefício da comunidade. Ser-se voluntário é, também, ter convergência e harmonização com os interesses dos destinatários da ação e com a cultura e os valores das organizações promotoras.

O meu apreço pelo trabalho voluntário já vem de longa data, não porque o tenha exercido permanentemente, apenas tal aconteceu em casos esporádicos e concretos, mas por ter acompanhado o trabalho de uma religiosa (nos anos 60) que se dedicava a visitar os doentes. Depois disso, ao longo da vida, fui tomando contato com instituições e pessoas que se dedicavam ao voluntariado e passei a ser um admirador confesso dessa atividade que, de forma certa, vai contribuindo para um mundo mais justo e solidário. É graças a esse tipo de trabalho que muitas ações da sociedade organizada têm suprido o fraco investimento ou mesmo a sua falta do governo em educação, saúde, lazer e outros sectores. Em Portugal, o exemplo mais antigo e importante é representado pelas Associações Humanitárias de Bombeiros Voluntários, mas muitos outros se seguiram, especialmente na captação de bens e serviços essenciais para as populações.

Recentemente o jornal i deu ao conhecimento público o trabalho de uma associação (O Companheiro, em Lisboa) que trabalha diariamente com ex-reclusos, reclusos com precárias e ainda alguns condenados a trabalho a favor da comunidade. Esta associação tem banco de roupa, através do qual dão peças a famílias carenciadas, e um refeitório social com cerca de uma centena de refeições diárias e o banco alimentar, em parceria com o Banco Alimentar e Misericórdia de Lisboa. Os alimentos são distribuídos aos ex-reclusos e famílias, e também a agregados familiares dos bairros da Horta Nova e Padre Cruz, em Carnide, na cidade de Lisboa. Tem também a residência que recebe os ex-reclusos e onde os técnicos da associação dispõem de um espaço infocultura, o gabinete de intervenção social, o gabinete de intervenção clínica e psicológica, o gabinete de educação, formação e empregabilidade, e o gabinete de apoio jurídico. Tudo estruturas viradas para a integração dos ex-reclusos. São poucos os voluntários nesta associação e a explicação é dada pelos técnicos que dizem: «De idosos e crianças todos têm pena. De ex-reclusos, nem por isso». Este é apenas um exemplo, mas há tantas instituições a trabalhar que agradeceriam encarecidamente mais voluntários para colaborar em favor da sociedade. Porque esperamos para dar o exemplo?

Daqui.

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