Cinco voluntários leigos partem este mês para ajudar nas missões da Consolata, em África. Todos têm percursos diferentes, mas um objectivo comum: ajudar quem precisa
João e Catarina Seia conheceram-se num campo de voluntariado, casaram e vão partir em missão por um ano. Tânia sonhava ser voluntária no exterior e, por coincidência, vai para a terra onde o avô foi militar no tempo da guerra colonial. Maura e Tiago sempre ambicionaram por uma experiência que os tornasse próximos de quem mais precisa e também se preparam para seguir para África. Para todos, 2015 será o ano da mudança.
Quando em 2012 Catarina e João Seia partiram para uma missão de voluntariado em Marrocos, por uma semana, estavam longe de imaginar como as suas vidas iam mudar. Cruzaram-se no hospital de campanha que prestava assistência a crianças e adultos, trocaram olhares cúmplices, partilharam conversas e sonhos e nunca mais se largaram. «Regressámos de coração cheio», recorda Catarina, 25 anos, licenciada em Terapia da Fala. Cheio e apaixonado.
Além do namoro, que se iniciou pouco depois, ambos saíram do Norte de África com a sensação de que tinham «feito pouco» e que se estavam a enganar a eles e às pessoas a quem pretendiam ajudar. Este sentimento, esta vontade de fazer mais, levou-os de novo a Marrocos, em 2014, meses antes de casarem, em agosto. Na celebração, ficou a saber-se que ambos pretendiam partir em missão para um país africano. Apesar de João ser um homem discreto e preferir manter o ‘segredo’ no ambiente familiar, o sacerdote que presidiu ao casamento não resistiu e revelou a boa nova também aos convidados.
A 20 de janeiro, o casal viaja para Moçambique, onde é esperado na missão do Guiúa, para um ano de trabalho voluntário. O objetivo é prestarem apoio no centro de saúde, nas escolas, na biblioteca e na sala de informática, mas a disponibilidade para ajudar no mais que for preciso é total. «Vamos muito disponíveis e abertos a novas ideias e a projetos aliciantes», diz João, 35 anos, profissional de fisioterapia e educação física. Catarina acrescenta também a intenção espiritual: «Como católicos, a Palavra diz-nos diariamente que temos que nos amar uns aos outros, mas fazê-lo de coração. Por isso, tentaremos aproximar-nos de Deus e dar resposta ao que nos pede».
Contrariamente ao que a maioria das pessoas ambiciona – ter um emprego estável e acesso a um conjunto alargado de bens materiais – o casal, residente em Lisboa, está mais preocupado em aprender com os que «pouco ou nada têm, mas que são felizes». Daí, estar disposto a disponibilizar boa parte da sua bagagem para levar material didático ou médico, em vez de vestuário. Como objeto de proteção, vão fazer-se acompanhar de um crucifixo que João guarda desde a sua primeira comunhão.
Cultura do encontro
Seguindo esta tendência para os encontros, uma feliz coincidência vai permitir a Tânia Reis, 25 anos, encontrar-se com o passado. Não o seu, mas o do seu avô, um dos muitos combatentes na guerra colonial, na Guiné-Bissau. Quando chegar a Empada para cumprir um ano de voluntariado na missão das Irmãs Missionárias da Consolata, em equipa com Maura Carolino, vai cruzar-se com os vestígios da presença militar portuguesa, bem visível ainda em alguns edifícios abandonados e numa fonte construída pelas tropas lusas para banhos e abastecimento de água.
Rececionista no Seminário dos Missionários da Consolata, em Fátima, a jovem habituou-se a ouvir as histórias contadas pelos consagrados em trânsito e achou que era chegado o momento de partir também. «É importante sairmos de nós próprios e irmos ao encontro do outro, viver outras realidades e culturas». A seu lado, de sorriso rasgado, Maura, 35 anos, licenciada em serviço social, acena com a cabeça em sinal de aprovação e acrescenta: «Nesta sociedade tornamo-nos tão egoístas e estamos sempre a queixar-nos de tudo que precisamos de contactar com outra cultura, onde falta tanta coisa. Não vamos impor nada, mas tentar estar como um deles».
As duas amigas encontraram-se no grupo de leigos missionários da Consolata e estão mais unidas do que nunca, desde que souberam que iam partir para a tabanca (designação local para vila) de Empada, por um ano. Vão preparadas para apoiar o centro nutricional, a pastoral juvenil e partilhar conhecimentos na área da informática. Mas, tal como João e Catarina, manifestam-se disponíveis para responder a outras «necessidades locais». «O ideal era deixarmos algo que depois pudesse ter continuidade», ressalva Maura Carolino.
«Bichinho» missionário
Continuidade é o que José Tiago Dinis procura ao partir para a missão do Ubungo, na Tanzânia. Em 2009, teve a oportunidade de participar num campo de voluntariado no país, gostou tanto, que decidiu voltar. Mas agora por três anos. «Trabalhei, tive um bom emprego, mas manteve-se este bichinho de querer ajudar. Mesmo estando bem financeiramente, não me sentia realizado», conta o jovem de Águas Santas (Maia), 25 anos, especializado em informática.
Quando comunicou a viagem à família, provocou um choque geral, em especial na mãe que «receia muito os perigos, os animais e as doenças». Mas à medida que a hora da partida se vai aproximando, a estupefação tem dado lugar ao encorajamento. E «Zétê», como é tratado pelos amigos, não esconde a ansiedade por poder voltar a experienciar uma forma de vida que tanto o marcou na primeira ida à Tanzânia. «Vi um povo que não tinha nada, mas que no meio desse nada mostrava uma alegria e um dom da dádiva fantásticos. Costumo dizer que vamos lá com o intuito de ajudar, mas saímos mais ajudados do que aquilo que ajudamos».
Preparado para promover cursos de informática em todo o país, o ex-seminarista espera «crescer» intelectualmente com o projeto e desligar-se «do banalismo da sociedade atual». Este contacto com outras culturas e realidades, «acaba por nos consciencializar que não é tão fácil abrir uma torneira ou ter água em casa. Ou seja, faz-nos dar mais valor às coisas simples», acrescenta Tiago Dinis, que conta encontrar nas dificuldades do dia a dia «uma boa fonte de motivação». Resumindo, e pegando nas palavras de João Seia, para estes cinco missionários leigos, «este é o caminho».
Quando em 2012 Catarina e João Seia partiram para uma missão de voluntariado em Marrocos, por uma semana, estavam longe de imaginar como as suas vidas iam mudar. Cruzaram-se no hospital de campanha que prestava assistência a crianças e adultos, trocaram olhares cúmplices, partilharam conversas e sonhos e nunca mais se largaram. «Regressámos de coração cheio», recorda Catarina, 25 anos, licenciada em Terapia da Fala. Cheio e apaixonado.
Além do namoro, que se iniciou pouco depois, ambos saíram do Norte de África com a sensação de que tinham «feito pouco» e que se estavam a enganar a eles e às pessoas a quem pretendiam ajudar. Este sentimento, esta vontade de fazer mais, levou-os de novo a Marrocos, em 2014, meses antes de casarem, em agosto. Na celebração, ficou a saber-se que ambos pretendiam partir em missão para um país africano. Apesar de João ser um homem discreto e preferir manter o ‘segredo’ no ambiente familiar, o sacerdote que presidiu ao casamento não resistiu e revelou a boa nova também aos convidados.
A 20 de janeiro, o casal viaja para Moçambique, onde é esperado na missão do Guiúa, para um ano de trabalho voluntário. O objetivo é prestarem apoio no centro de saúde, nas escolas, na biblioteca e na sala de informática, mas a disponibilidade para ajudar no mais que for preciso é total. «Vamos muito disponíveis e abertos a novas ideias e a projetos aliciantes», diz João, 35 anos, profissional de fisioterapia e educação física. Catarina acrescenta também a intenção espiritual: «Como católicos, a Palavra diz-nos diariamente que temos que nos amar uns aos outros, mas fazê-lo de coração. Por isso, tentaremos aproximar-nos de Deus e dar resposta ao que nos pede».
Contrariamente ao que a maioria das pessoas ambiciona – ter um emprego estável e acesso a um conjunto alargado de bens materiais – o casal, residente em Lisboa, está mais preocupado em aprender com os que «pouco ou nada têm, mas que são felizes». Daí, estar disposto a disponibilizar boa parte da sua bagagem para levar material didático ou médico, em vez de vestuário. Como objeto de proteção, vão fazer-se acompanhar de um crucifixo que João guarda desde a sua primeira comunhão.
Cultura do encontro
Seguindo esta tendência para os encontros, uma feliz coincidência vai permitir a Tânia Reis, 25 anos, encontrar-se com o passado. Não o seu, mas o do seu avô, um dos muitos combatentes na guerra colonial, na Guiné-Bissau. Quando chegar a Empada para cumprir um ano de voluntariado na missão das Irmãs Missionárias da Consolata, em equipa com Maura Carolino, vai cruzar-se com os vestígios da presença militar portuguesa, bem visível ainda em alguns edifícios abandonados e numa fonte construída pelas tropas lusas para banhos e abastecimento de água.
Rececionista no Seminário dos Missionários da Consolata, em Fátima, a jovem habituou-se a ouvir as histórias contadas pelos consagrados em trânsito e achou que era chegado o momento de partir também. «É importante sairmos de nós próprios e irmos ao encontro do outro, viver outras realidades e culturas». A seu lado, de sorriso rasgado, Maura, 35 anos, licenciada em serviço social, acena com a cabeça em sinal de aprovação e acrescenta: «Nesta sociedade tornamo-nos tão egoístas e estamos sempre a queixar-nos de tudo que precisamos de contactar com outra cultura, onde falta tanta coisa. Não vamos impor nada, mas tentar estar como um deles».
As duas amigas encontraram-se no grupo de leigos missionários da Consolata e estão mais unidas do que nunca, desde que souberam que iam partir para a tabanca (designação local para vila) de Empada, por um ano. Vão preparadas para apoiar o centro nutricional, a pastoral juvenil e partilhar conhecimentos na área da informática. Mas, tal como João e Catarina, manifestam-se disponíveis para responder a outras «necessidades locais». «O ideal era deixarmos algo que depois pudesse ter continuidade», ressalva Maura Carolino.
«Bichinho» missionário
Continuidade é o que José Tiago Dinis procura ao partir para a missão do Ubungo, na Tanzânia. Em 2009, teve a oportunidade de participar num campo de voluntariado no país, gostou tanto, que decidiu voltar. Mas agora por três anos. «Trabalhei, tive um bom emprego, mas manteve-se este bichinho de querer ajudar. Mesmo estando bem financeiramente, não me sentia realizado», conta o jovem de Águas Santas (Maia), 25 anos, especializado em informática.
Quando comunicou a viagem à família, provocou um choque geral, em especial na mãe que «receia muito os perigos, os animais e as doenças». Mas à medida que a hora da partida se vai aproximando, a estupefação tem dado lugar ao encorajamento. E «Zétê», como é tratado pelos amigos, não esconde a ansiedade por poder voltar a experienciar uma forma de vida que tanto o marcou na primeira ida à Tanzânia. «Vi um povo que não tinha nada, mas que no meio desse nada mostrava uma alegria e um dom da dádiva fantásticos. Costumo dizer que vamos lá com o intuito de ajudar, mas saímos mais ajudados do que aquilo que ajudamos».
Preparado para promover cursos de informática em todo o país, o ex-seminarista espera «crescer» intelectualmente com o projeto e desligar-se «do banalismo da sociedade atual». Este contacto com outras culturas e realidades, «acaba por nos consciencializar que não é tão fácil abrir uma torneira ou ter água em casa. Ou seja, faz-nos dar mais valor às coisas simples», acrescenta Tiago Dinis, que conta encontrar nas dificuldades do dia a dia «uma boa fonte de motivação». Resumindo, e pegando nas palavras de João Seia, para estes cinco missionários leigos, «este é o caminho».
20/01/2015
Daqui.
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