23/12/07

Ajudar o próximo a tempo inteiro

Depois da sesta as crianças da sala dos dois anos levantam-se, vestem-se e esperam pacientemente, sentadas nas suas cadeirinhas, pelo lanche. A sala, desarrumada com as camas onde os meninos dormiram, tem de ser arrumada para desocupar o espaço. Essa é uma das muitas tarefas de Marlene Isidro, voluntária na creche da Santa Casa da Misericórdia de Azambuja há cerca de oito anos.

A relação de Marlene Isidro com a Misericórdia começou por acaso. Um dia, a voluntária, de 67 anos, natural de Vale Paraíso, concelho de Azambuja, foi às instalações da instituição com dois familiares com o objectivo de se tornar sócia. Durante a visita, em conversa com o provedor da Misericórdia, Marlene Isidro perguntou se não estariam interessados em receber voluntários. Perante a resposta não hesitou em começar a ajudar recebendo em troca apenas almoço oferecido pela instituição.

Marlene Isidro optou por trabalhar voluntariamente porque gosta de ajudar, mas também para combater a solidão que enfrenta sempre que regressa a casa. A voluntária perdeu o marido muito cedo e não teve filhos. Após a morte dos seus pais ficou sozinha e por isso quer manter-se ocupada até morrer. “Encontrei aqui uma família e só deixo de trabalhar se ficar doente ao ponto de não conseguir sair de casa. Gostava de fazer voluntariado no lar que vão inaugurar na minha terra”, afirma. Já não se imagina sem os “seus” meninos e garante que a decisão de fazer voluntariado foi a melhor que poderia ter tomado.

Tal como Felisbela Marques, que trabalhou 26 anos na Santa Casa da Misericórdia de Azambuja. Em 2006 completou 65 anos e aposentou-se. Para quem não consegue estar parada custou ficar sozinha em casa. “O meu marido tem uma horta e trata todos os dias dela. Vai de manhã e chega à noite e eu ficava sozinha em casa sem ter o que fazer”, refere.

Descontente com a situação falou com os responsáveis da Misericórdia que aceitaram, de imediato, a ajuda. Agora a exercer funções de voluntária. Felisbela Marques, 66 anos, ajuda na instituição sempre que pode. Como a mãe está acamada passa um mês na sua casa e um mês na casa do irmão. Nos meses em que não tem a mãe a sua cargo desloca-se diariamente para o antigo local de trabalho onde ajuda no que for preciso. “Como já conheço os cantos à casa ando sempre a ver onde precisam de ajuda. O facto de trabalharmos em regime de voluntariado dá-nos maior liberdade”, explica. Felisbela Marques lamenta que exista pouco voluntariado nas instituições de solidariedade social. As pessoas andam concentradas na sua vida e nos problemas do dia-a-dia que se esquecem que existe quem precisa de ajuda e de um ombro amigo para conversar.
Notícia daqui.

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