26/03/08

Projecto VEM- Voluntariado em Matosinhos

A mais visível do trabalho do voluntário é o apoio aos idosos. Em alguns casos, criam-se quase laços de família.
O projecto VEM- Voluntariado em Matosinhos- surgiu em finais de 2006 e veio colmatar uma lacuna que existia no concelho nesta área.
Em Matosinhos, o serviço de voluntariado resumia-se à Liga dos Amigos do Hospital Pedro Hispano e a algumas acções da Junta de Freguesia. “Partiu-se do zero. Resolvemos fazer um projecto consistente, seguindo as regras. Por isso, integramos o Banco Nacional de Voluntários e a Comissão Nacional para a Promoção do Voluntariado.
Nós não quisemos misturar duas coisas: o voluntariado com o voluntarismo. O voluntariado é uma coisa muito útil, muita séria, mas que mal utilizado pode trazer grandes problemas. O voluntarismo é que é um grande problema”, conta Fernando Rocha, vereador do pelouro do Voluntariado.
Dos 247 inscritos, 61 acabaram por desistir. Quanto às instituições, 54 solicitaram voluntários à Câmara Municipal. Para a segunda fase estão já em lista de espera mais 27 instituições. Quanto à formação, estão agendadas para Fevereiro acções na Casa da Juventude de Matosinhos e no CATI (S. Mamede de Infesta), num total de 62 formandos. “Quando nos aparecem pessoas que querem ser voluntárias no Hospital Pedro Hispano, encaminhamos para a Liga dos Amigos. As instituições aderentes ao projecto do voluntariado estão, neste momento, com todos os requisitos preenchidos. Já tivemos solicitações para outros concelhos, mas não é a nossa vocação”, explica. Para se ser voluntário é necessário ter mais de 16 anos. Contudo, há muitos outros requisitos que são avaliados no perfil do candidato: “as pessoas inscreveram-se. Tiveram que dizer em que áreas queriam ser voluntárias. Foram todas entrevistadas por uma psicóloga para se aferir das suas capacidades. Depois fizeram cursos de formação de voluntariado nas áreas onde queriam ser voluntários. Assinam um termo de responsabilidade, onde assumem esse compromisso. Só a partir daí é que vão para as instituições. Depois, continuam a ser avaliados e anualmente é feita uma avaliação do desempenho do voluntário. Aí vê-se se ele teve ou não perfil para desempenhar aquele posto onde foi colocado ou não teve. Além dos voluntários, há um acompanhamento e uma avaliação das próprias instituições”. Assumir compromissos implica uma maior responsabilidade dos voluntários. Todavia, nem todas as pessoas têm apetência para serem voluntárias, como sublinha Fernando Rocha: “há pessoas que têm a maior das boas vontades e depois chega-se ao local e percebe-se que não tem apetência para aquilo. Há áreas que são mais sensíveis que outras.
Os idosos, por exemplo. Não nos podemos esquecer que um voluntário acaba por entrar quase na intimidade de um idoso. Criam-se ali graus de dependência muito grandes. Se um voluntário deixa de cumprir as obrigações cria um trauma na própria pessoa que supostamente ia ajudar. Não se podem defraudar as expectativas”.
Voluntariado de proximidade
O principal objectivo do chamado “voluntariado de proximidade” é combater o isolamento social dos idosos e/ou dependentes, entre os 40 e os 92 anos de idade. Matosinhos, Santa Cruz do Bispo e Leça da Palmeira são as freguesias onde existe este tipo de acompanhamento. Perafita, S. Mamede de Infesta, Leça do Balio e Custóias aguardam ainda pela criação de um novo grupo de voluntários com formação nesta área. As acções realizadas pelos voluntários junto desta franja da população são muito variadas: conversar, fazer companhia, passear, ir ao teatro, ajudar em pequenas tarefas de higiene pessoal, organizar medicação, ir às compras ou ao cabeleireiro, entre outras tarefas. Ao fim de um certo tempo, estabelece-se uma relação quase familiar entre os voluntários e os idosos. Aliás, em Matosinhos, por exemplo, há casos de volun- tários que, neste momento, não acompanham ninguém devido ao falecimento dos idosos que auxiliavam. A relação acaba por ser tão próxima que ainda não se sentem capazes de acompanhar outro idoso. O voluntariado na primeira pessoaVânia Fernandes é uma jovem de 21 anos que vive na Senhora da Hora. Frequenta o 3º e último ano do curso de Línguas, Literaturas e Culturas Português- Alemão, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Vânia teve conhecimento do projecto VEM através de um amigo. Pesquisou no site da CMM, preencheu o formulário e, nas suas preferências, escolheu trabalhar com crianças e idosos.
O voluntariado no Centro Cultural e de Solidariedade Social de Guifões foi a sua primeira experiência. Há sete meses que tem a seu cargo a alfabetização do português. Começou por vir duas vezes por semana, mas agora só pode vir às terças-feiras, entre as 15h00 e as 18h00, por causa do horário das aulas.“Quando vim notei que havia muita diferença ao nível de conhecimento entre as pessoas. Algumas sabiam as letras, mas não sabiam escrever. Outras davam erros a escrever. Havia graus diferentes de dificuldades”, conta. Actualmente, acompanha a Dona Zulmira, uma senhora de quase 80 anos, que não sabe ler, mas que identifica as letras no computador: “é uma pessoa muito alegre. Gosta de jogar Uno. Ela gosta de desabafar. Conta-me coisas como se me conhecesse há nos. O ritmo não é igual ao nosso. Temos que perceber que é uma parte da nossa vida. Muita gente não se lembra que vai ter a mesma idade. Já estou tão habituada a vir aqui que, quando faltei 15 dias por causa dos exames na faculdade, senti falta. É quase como se fosse da família. Só estamos as duas. Cria-se um laço. É uma pessoa muito querida”.O que se aprende com os mais velhos? Nas palavras da Vânia, “os idosos cumprimentam sempre, estão sempre sorridentes, mesmo quando não conhecem”.Embora esteja no último ano da faculdade, Vânia quer continuar a dedicar um pouco de si e do seu tempo livre ao voluntariado. Os próprios colegas acham curiosa esta faceta da Vânia. É, de facto, pouco comum encontrar uma jovem de 21 anos que esteja disponível para lidar com os idosos.Já Rosa Maria, de 58 anos, sempre foi uma pessoa muito activa. Trabalhou durante 41 anos. Quando foi para a reforma, há dois anos, sentiu que estava a passar umas férias prolongadas. Todavia, ao fim de um certo tempo, começou a sentir-se “vazia”: “não fazia nada de útil. Sou muito nova para estar encostada. Um dia, estava na Biblioteca de Matosinhos e ouvi duas senhoras a falar deste centro. Vim aqui e perguntei se podia ser voluntária. Foi a primeira experiência. Sempre me integrei bem em grupos. Como tinha tempo livre, vim aqui por iniciativa própria”.Desde Agosto do ano passado que Rosa Maria acompanha os idosos do Centro Cultural e de Solidariedade Social de Guifões. Às terças e quintas-feiras durante todo o dia, enquanto os restantes dias só está disponível da parte da tarde. Participa nas aulas de hidroginástica e no coro, ajuda a dar de comer e a organizar a medicação, ajuda nos trabalhos para as épocas festivas, entre outras tarefas.“Isto já faz parte de mim. Passo muito tempo com eles. Cativam-nos. Gostam de falar. Há pessoas muito carentes. Muitas vezes, o voluntário é como um confidente”, revela Rosa Maria.Gonçalo Rodrigues, de 27 anos, é outro dos voluntários do Centro Cultural e de Solidariedade Social de Guifões. É natural de Viseu e vive actualmente no Porto. Terminou o curso de Psicologia na Universidade Lusíada e, desde Setembro, vem todos os dias, exceptuando os fins-de-semana, a Guifões, entre as 9h30 e as 17h30.Gonçalo teve conhecimento do serviço de voluntariado através da Internet: “tinha demasiado tempo livre. Não queria estagnar. Interessava-me estar em contacto com a realidade”. Actualmente, frequenta o mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde, no ISMAI.Entre as várias tarefas que desempenha, destacam-se a organização das saídas em grupo, acompanhamento, orientação, realização de colóquios e acções de formação. “Fiquei surpreendido pela positiva. Não sendo daqui, fui muito bem recebido. Pretendo manter uma certa distância. Não como amigo, mas como psicólogo, posso ajudá-los de uma outra forma”, explica. Sise Nando é natural de Matosinhos, mas reside em Leça da Palmeira. Tem 60 anos. Trabalhou durante 20 anos como técnico de informática. Há três anos foi para a pré-reforma. Tal como a Vânia, Sise decidiu inscrever-se no projecto VEM e desde Setembro que visita o centro três vezes por semana. Ensina os idosos a trabalhar com o computador, desmistificando a ideia que a informática é “um bicho-de-sete-cabeças”. “Estava em casa. Estava chateado de não fazer nada”, salienta.Ao fim de alguns meses, Sise nota já uma evolução dos seus alunos. Muitos já lidam bem com o “Word” e sabem já fazer tabelas e texto com colunas. As dificuldades maiores são os acentos, as vírgulas e os espaços, mas Sise procura levar as coisas na brincadeira: “enquanto puder, cá estarei. Procuro olhar para a vida pelo lado bom”.Para o presidente da instituição, António Madeiras, o espaço já começa a ser pequeno para tantas actividades: “todas as pessoas têm feito um bom trabalho a ajudar os idosos ou nos trabalhos manuais. Têm sido fantásticas. Antes não tínhamos condições, mas hoje em dia o centro já começa a ser pequeno. Precisamos de mais espaço para mais actividades”. O Centro de Dia serve diariamente uma média de 40 almoços. À tarde, cerca de 80 idosos lancham e participam em várias actividades.Quem quer ser voluntárioOs interessados deverão consultar o sítio da CMM na Internet ou dirigir-se directamente ao Edifício dos Paços do Concelho e pedir informações. Quando preencher o formulário, deverá referir a área em que ser voluntário: educação, ambiente, património, desporto, apoio social, exclusão social, direitos humanos, protecção dos animais, bibliotecas, turismo, entre outras.Segue-se uma entrevista onde o candidato será avaliado. Além da formação e de um diploma, o voluntário tem um seguro em caso de acidente. No fim, recebem, nas palavras do vereador do Voluntariado, “agradecimento e satisfação pessoal”.Perfil do voluntário“A imagem do voluntário que as pessoas têm não é a verdadeira. Têm-se a ideia que são pessoas já reformadas, sem grande ocupação. O voluntário em Matosinhos não é assim”, defende Fernando Rocha.Analisando o perfil do voluntário de Matosinhos, constata-se que a média de idades ronda os 33 anos, com predominância do sexo feminino.Em termos de habilitações, a maioria possui curso superior e há, inclusivamente, pós-graduados. A maioria (72%) não tinha qualquer experiência em voluntariado. Quanto às áreas de intervenção, destacam-se a educação e o apoio social. Crianças e jovens são a população-alvo mais referenciada pelos voluntários, assim como a preferência pelo horário pós-laboral.“São voluntários por opção pessoal. Não são voluntários porque não têm mais nada para fazer e querem ocupar o tempo livre. As pessoas são mais sensibilizáveis para as tarefas que nós temos. Os voluntários não estão ali para substituir ninguém. Um voluntário que vai para um lar da terceira idade não vai substituir nenhum funcionário. Vai acrescentar mais-valias. As pessoas têm um pouco a ideia de que falta pessoal, mete-se aqui uns voluntários e resolve-se os problemas. Não é isso que fazemos”, sublinha Fernando Rocha.O voluntariado está, normalmente associado, ao apoio social. Todavia, há voluntários que se interessam por outras áreas como a cultura e querem trabalhar na Biblioteca ou Galeria Municipal. Outro bom exemplo é o apoio prestado aos alunos com dificuldades em Matemática, nas Casas da Juventude em Matosinhos e Santa Cruz do Bispo, através de explicações gratuitas, ou nas bibliotecas escolares.Também na área do ambiente se vê o trabalho dos voluntários, nomeadamente na protecção da natureza e das praias, na recolha e separação dos lixos. Novos projectos em 2008A criação de uma “Bolsa de Voluntariado Informal” e a participação em missões humanitárias nos países africanos são dois projectos que deverão avançar este ano. A “Bolsa de Voluntariado Informal” consiste num voluntariado pontual em determinadas alturas do ano, como o Verão, em que há concertos, festivais e campanhas de sensibilização nas praias. “É uma resposta para aquelas pessoas que gostavam de dar alguma coisa, mas que não podem dar durante todo o ano, com dia e hora marcada. É uma ocupação sazonal”, explica o vereador. No que diz respeito à participação em voluntariado internacional, nomeadamente nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, Fernando Rocha esclarece que será igualmente pontual, dependendo das missões: “iremos estar acompanhados por um grupo que nasceu na Universidade Católica e que tem feito voluntariado em alguns países de África que se dedicam essencialmente a cuidados de saúde e higiene”.
Vânia Fernandes21 anos - Voluntária“Já estou tão habituada a vir aqui que, quando faltei 15 dias por causa dos exames na faculdade, senti falta”.Rosa Maria58 anos - Voluntária“Há pessoas muito carentes. Muitas vezes, o voluntário é como um confidente”.
António Madeiras72 anos - Pres. do CCSSG“Antes não tínhamos condições, mas hoje em dia o centro já começa a ser pequeno”.Gonçalo Rodrigues27 anos - Voluntário“Tinha demasiado tempo livre. Não queria estagnar. Interessava-me estar em contacto com a realidade”.
Sise Nando60 anos - Voluntário“Estava em casa. Estava chateado de não fazer nada”.

2 comentários:

Anónimo disse...

Qual é o contacto de e-mail para onde devo enviar um pedido de informação do V.E.M?

Liliana F. Verde disse...

Terá de contactar a Câmara de Matosinhos.