15/03/14

O Voluntário no Escutismo Católico I / II

O VOLUNTARIADO NO ESCUTISMO CATÓLICO I

O Corpo Nacional de Escutas (CNE) - Escutismo Católico Português é, nos termos dos seus estatutos: “uma associação de juventude, sem fins lucrativos, destinada à formação integral de jovens, com base no método criado por Baden-Powell e no voluntariado dos seus membros” (artº 1º).

Desde sempre, o CNE tem tido a preocupação de conhecer os seus membros, não só quantitativamente, mas também em termos de caracterização social. É certo que anualmente procedemos à realização de um censo que nos cria uma imagem de quantos somos, aonde estamos, que tipo de atividades realizamos e que recursos mobilizamos, mas sentimos que “sabe a pouco”!

Com a vivência do Ano Europeu do Voluntariado (2011), impusemos a nós próprios a realização de um estudo sociológico, com o rigor científico, para a caracterização, motivação e valor económico do voluntário [adulto] no CNE1.
Contamos com a supervisão e coordenação da Professora Doutora Boguslawa Sardinha, economista e professora da Escola Superior de Ciências Empresariais, do Instituto Politécnico de Setúbal e com a sua doutoranda Drª Olga Cunha, que no âmbito do seu doutoramento desenvolveu esse estudo.

Dos 13.760 adultos recenseados a 1 de janeiro de 2012, quatro mil receberam um destes inquérito e, 1.073 responderam ao mesmo, correspondendo a 28% dos inquéritos distribuídos e a 8% dos adultos voluntários do CNE, este universo de respostas cobre todo o território nacional - continente e ilhas.

Neste estudo, das características demográficas visadas, resultaram os seguintes dados:
Sexo2: 59% são do sexo masculino e 41% do feminino;
Idade3: menos de 30 anos - 30,6%, de 30 a 39 anos - 28,6%, de 40 a 49 anos - 28,7% e mais de 50 anos - 12,2%;
Número de filhos4: sem filhos - 43,6%, com 1 filho - 22,6%, com 2 filhos - 26,8%, com 3 filhos - 5,7% e com mais de 3 filhos - 1,3%;
Vive com ascendentes: não - 79,0% e sim - 21,0%.

Já as características socioeconómicas determinaram os seguintes resultados:
Lugar onde vive5: cidade - 51,1%, vila - 25,8% e aldeia - 23,1%;
Estado civil6: solteiro - 44,7%, casado - 50,9% e outro - 4,4%;
Rendimento7: até 7.000 € - 25,3%, de 7.000 a 14.000 € - 40,4% de 14.000 a 30.000 € - 25,0%, de 30.000 € a 50.000 € - 6,8% e mais de 50.000 € - 2,2%;
Situação profissional8: trabalhador por conta de outrem - 71,1%, trabalhador por conta própria - 9,9%, estudante - 7,2%, reformado - 2,6%, desempregado - 7,7% e outro - 1,5%;
Nível de educação9: sem escolaridade - 0,3%, 4.º ano - 2,1%, 6º ano - 5,2%, 9.º ano - 11,2%, 12.º ano - 34,4%, licenciatura - 37,3% e mestrado/doutoramento - 9,5%.
Destes dados apurados verificamos que, nos adultos voluntários do Escutismo Católico Português, há:
• um equilíbrio quanto à distribuição por sexo, ligeira vantagem para os homens;
• uma grande maioria de com menos de 40 anos e que muito poucos ultrapassam os 50 anos;
• uma maioria deles sem filhos ou apenas com um filho;
• uma grande maioria com autonomia pois não vive na casa dos progenitores;
• uma esmagadora maioria de adultos urbanos;
• um equilíbrio entre solteiros e casados, com ligeira vantagem para os primeiros;
• uma maioria com rendimentos no intervalo entre os 7 mil e os 14 mil euros;
• uma esmagadora maioria que trabalha por conta de outrem e uma pequena taxa de desempregados;
• uma predominância clara de formação universitária (licenciatura, mestrado ou doutoramento), logo seguida dos que completaram o 12º ano, que em conjunto formam uma grande maioria.

Em próximos artigos continuaremos a apresentar o “retrato” do adulto voluntário do Corpo Nacional de Escutas.

1IOL 2008 Report - The Manual on the Measurement of Volunteer Work.
2Badelt & Hollerweger, 2001.
3Janoski & Wilson, 1995.
4Wuthnow, 1998.
5Musick et al., 1999; Oman et al., 1999.
6Freeman, 1997; Sundeen, 199
7Prouteau & Wolf, 2006.
8Ziemek, 2003.
9Brady et al., 1995; McPherson & Rotolo, 1996; Rosenthal et al. 1998; Sundeen & Raskoff, 1994.

O VOLUNTARIADO NO ESCUTISMO CATÓLICO II


No primeiro artigo sobre esta temática, partindo do estudo «Para a caracterização, motivação e valor económico do voluntário [adulto] no CNE» realizado, pela doutoranda, Drª Olga Cunha, sob a supervisão e coordenação da Profª Doutora Boguslawa Sardinha, professora da Escola Superior de Ciências Empresariais, do I.P. de Setúbal, analisamos as caraterísticas demográficas e socioeconómicas relativas aos adultos voluntários do Escutismo Católico Português.

Hoje reter-nos-emos sobre o que motiva este batalhão de 13.760 adultos voluntários a dedicarem para do seu tempo de ócio ao movimento escutista.

As autoras partiram do “Inventário de motivações para o voluntariado (VMI) - Motivações chave - (modelo Cleary et al.)”, respeitando as seguintes categorias:
Valores - porque acreditam que é importante ajudar os outros;
Reconhecimento - as pessoas precisam de ter um reconhecimento público;
Interação social - possibilidade de convívio e estabelecimento de redes sociais;
Reciprocidade - ao fazerem o bem aos outros sentem que há um retorno;
Compreensão - sobre o mundo e os seus problemas;
Reação (Reactivity) - possibilidade de resolver os seus próprios problemas;
Autoestima - aumento do sentido do seu próprio valor;
Aspetos sociais - influência da sociedade, comunidade, amigos;
Desenvolvimento da carreira - novos conhecimentos, competências, redes de conhecimentos;
Proteção - diminuição do sentimento de culpa.

As cinco primeira categorias podem ainda ser incluídas no âmbito da esfera social, enquanto as restantes cinco na esfera pessoal.

Os adultos voluntários, face ao pedido de, relativamente a estas categorias, se pronunciarem numa escala de 1 (totalmente em desacordo) a 5 (totalmente de acordo), produziram o seguinte resultado:
1. As categorias: proteção, desenvolvimento da carreira e aspetos sociais situam-se abaixo dos 2.5;
2. A categoria: reação (reactivity) situa-se entre o 2.5 e o 3.0;
4. As categorias: interação social, reciprocidade, compreensão e valores situam-se entre o 3.5 e o 4.0.

Daqui se pode concluir que os adultos voluntários do CNE privilegiam as categorias de incidência social, deixando para segundo plano as de incidência pessoal, o que permite afirmar que visão que cada um deles tem da Missão do Escutismo está claramente sintonizado no pensamento do fundador que definia o escutismo como um Movimento de Educação Cívica.

Esta convicção é ainda sustentada pelas escolhas feitas pelos adultos voluntários que, num conjunto de quarenta e quatro afirmações, escolhem as seguintes quatro para ilustrarem porque não trabalham no escutismo:
a) para resolver os seus próprios problemas;
b) para no futuro arranjar um trabalho melhor;
c) porque os amigos os convenceram;
d) para se sentirem melhor com eles próprios.
E escolheram as seguinte seis afirmações para justificarem porque trabalham voluntariamente no escutismo:
a) querem reconhecimento pelo trabalho que fazem;
b) sentem-se bem com eles próprios;
c) querem encontrar novas pessoas e fazer novos amigos;
d) gostam de ajudar;
e) perspetiva de retorno positivo no futuro;
f) podem aprender coisas novas.

Estas escolhas, para além de consolidarem a conclusão apresentada, demonstram que a assimilação da finalidade do escutismo que, enquanto movimento educativo, assenta a sua ação na dinâmica de uma metodologia própria tendo como centro da ação educacional o jovem que é o artífice do seu percurso educativo, que age em pequenos grupos sob a liderança de um outro jovem que eles escolhem, mas onde cada um tem uma missão e um papel a desempenhar. Afirmam também a fraternidade mundial do movimento e, para terminar, ilustram de forma admirável a afirmação de Felicidade que Baden-Powell nos deixou na sua última mensagem: «Creio Deus nos colocou neste mundo encantador para sermos felizes (...) Mas o melhor meio para alcáçar a felicidade é contribuir para a felicidade dos outros».

Daqui.

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