12/07/15

Um país com um milhão de voluntários

Em cada 100 horas de trabalho em Portugal, quatro só acontecem graças a voluntários. São 368,2 milhões de horas num ano, para perceber melhor. Se fosse obra de uma só pessoa, como nunca é, esse super-homem teria de viver 42 mil anos sem fazer mais nada. Um estudo do Instituto Nacional de Estatística calcula que haja mais de um milhão de voluntários no país, cerca de 11,5% da população portuguesa. Dão todo o ano mas lembramo-los este Natal, numa edição que amanhã será dedicada a pessoas como Leonor, que visita idosos de Lisboa pela Associação Mais Proximidade Melhor Vida, ou Joana, que trabalha junto de mulheres que se prostituem na Estrada do Luso.
O estudo do Instituto Nacional Estatística concluiu que o trabalho voluntário em Portugal equivalia, em 2012, a 1% do PIB. A taxa de voluntariado era muito semelhante na população empregada e desempregada mas menor entre os reformados, destacando-se a intervenção dos mais jovens, em particular mulheres e solteiros. Mas se um milhão de voluntários parece muito, não somos campeões nesta área. As maiores taxas de voluntariado registam-se no norte da Europa, em particular na Holanda, onde 57% da população dá um pouco do seu tempo de forma altruísta. O INE explicava em 2013, na divulgação do estudo, que o desfasamento poderia resultar das condições socieconómicas do país, por haver uma correlação entre desenvolvimento económico e voluntariado.
APESAR DE TUDO SOLIDÁRIOS 
Mas apesar da economia ter encolhido nos últimos anos e não havendo dados mais recentes do INE para avaliar o impacto no voluntariado, um estudo divulgado ontem pelo IPAM - The Marketing School mostram uma sociedade em que a maioria tem algum gesto de solidariedade. Sete em cada dez portugueses doam dinheiro para causas solidárias. Se a maioria o faz ao longo de todo o ano, em média quatro vezes, alguns fazem-no mais nesta altura  [Natal]. Cinco euros é a quantia mais frequentemente oferecida, ainda que o valor médio ronde os nove euros.
O EMPURRÃO DA INTERNET 
Se é nos centros comerciais e em campanhas de rua que mais se fazem donativos, nos últimos anos têm surgido ferramentas na internet que facilitam a construção de um país mais solidário. É o caso da Bolsa do Voluntariado, criada em 2005 pela associação Entreajuda. Ontem estavam listados 87 pedidos. O Centro Padre Alves Correia, que trabalha com imigrantes, pede o apoio de um informático e de um enfermeiro ou farmacêutico. O corpo de voluntários da Ordem de Malta recruta acompanhantes de doentes que pretendem assistir à missa na capela do Hospital de S. João mas não têm quem os leve. A Misericórdia de Albufeira pede a ajuda de uma cabeleireira.
As plataformas para troca de géneros também se tornaram mais comuns e o estudo do IPAM revela que o hábito de oferecer bens, novos ou usados, é hoje mais abrangente que os donativos financeiros. Roupa, sapatos e alimentos são as principais ofertas. No site da Entreajuda, é possível colocar bens à disposição. Outra novidade são os leilões solidários em sites como o eSolidar, em que famosos e não só colocam cedem artigos para licitação e entregam as receitas a associações. Este ano, o direito a jantar com Tony Carreira valeu mil euros à delegação de Braga da Cruz Vermelha.
Daqui.

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