28/10/07

Dia do Voluntariado Missionário


Aveiro é palco, em Portugal, de várias iniciativas para relembrar experiências e testemunhos missionários


Dia do voluntariado missionário é assinalado amanhã. As celebrações portuguesas estão concentradas na cidade de Aveiro onde, se prevê a participação de 51 ONG’s, que actualmente compõe a Plataforma Portuguesa de Ongs para o Desenvolvimento, entre as quais a Fundação Evangelização das Culturas e os Missionários leigos da Boa Nova.


Subordinado ao tema «Comunicar 20015», o evento tem início hoje, 27, com a inauguração da uma mostra de fotografias artísticas “Viagens sem regresso”, que pretende reflectir sobre os 10 anos de voluntariado missionário. Para a noite, está marcada uma Vigília missionária.


Domingo, 28, no auditório da Capitanearia de Aveiro, vão realizar-se várias conferências sobre “ciber-missão” e a tecnologia em benefício da missão, actividade que contará com a presença dos responsáveis da Universidade de Aveiro, D. Ximenes Belo, bispo emérito de Timor-Leste e Jorge Pires Ferreira, director-adjunto do jornal Correio do Vouga.. Está marcada uma celebração eucarística à tarde e ainda o lançamento da Agenda 2008.


O Dia do Voluntariado Missionário é aberto a todas as pessoas que já estiveram em missão e àquelas que se preparam para partir em breve, assim como a toda a sociedade civil que queira unir-se a essa causa do Voluntariado Missionário.


Testemunhos de missão


Moçambique, Angola, Timor Leste, Brasil, são alguns dos destinos e palco de acções missionárias. Por um, dois, ou mesmo seis anos, homens e mulheres, leigos, voltam-se para esses países com o objectivo de ajudar no desenvolvimento humano. Trabalhar nas missões e na pastoral, dar aulas, ou auxiliar nos cuidados de saúde são algumas das muitas tarefas de ser “missionário 24 horas por dia”.


Ricardo e Elizabete Santos partiram em 2001 para Moçambique. Actualmente com 31 anos, Elizabete recorda a partida, na altura com 24 anos, três meses depois de ter casado, “num plano comum que tínhamos traçado”, explica à Agência ECCLESIA.


O projecto seria passar dois anos em Moçambique. Depois de um caminho no grupo de jovens leigos dos Missionários da Consolata, onde a reflexão sobre a missão para o laicado dava os primeiros passos, o jovem casal perspectivava a sua vida por dois anos.


Licenciada em ensino, Elizabete Santos leccionou Matemática, no ensino secundário, numa escola privada das Irmãs Agostinianas, “que na altura trabalhavam com os missionários da Consolata”, ficando também responsável pela parte pedagógica da escola e pela formação de professores. Rica e na manutenção”. A catequese e os grupos de jovens foram tarefas que também assumiram, envolvendo-se assim na pastoral. Tudo isto, na missão de Napinhane.


Na chegada a Moçambique, Elizabete Santos deu-se conta que era obrigada a parar. “O ritmo europeu é muito acelerado e contrastante com o africano”. O cumprimentar na rua que obriga a parar, “para estar com as pessoas, o parar para escutar as pessoas”, foi um factor marcante no princípio. Na sala de aula, os alunos estão “sedentos de aprender”, situação que contrasta com a portuguesa “onde tudo está disponível. Foi um trabalho muito gratificante”, aponta.


Neste período, ao todo de quatro anos, nasceram dois dos seus filhos - a Raquel e o Diogo e mais tarde, na missão de Mecanhelas, para onde a família rumou por mais dois anos, nasceu o Cristóvão, actualmente com um ano e meio.


As crianças “ajudaram-nos a ser missionários em família”, assume Elizabete Santos. A mais valia que encontra no projecto que abraçou foi dar testemunho enquanto família. “O povo moçambicano já valoriza muito a família”. Levar os filhos à eucaristia, rezar com eles, a forma como os educámos, eram tarefas normais e dentro da normalidade mostravam que os filhos eram iguais porque brincavam, comiam, viviam juntos, “os nossos filhos também foram missionários”.


Há oito meses em Portugal, as recordações são ainda muito vivas. “Lá há mais facilidades para se ser missionário, porque tudo à volta é trabalho e pede o nosso empenho”, afirma Elizabete - “somos missionários 24 horas por dia”. Também as pessoas são um convite à missão.


A experiência em Moçambique enquanto família “marca o que somos cá”, aponta. “Não podemos cair no consumismo, de dar tudo aos nossos filhos. Queremos manter o espírito de pobreza que conhecíamos”, afirma, não podendo ficar indiferentes ao que conheceram e à realidade que durante seis anos foi sua.


Também dos Leigos Missionários da Consolata, Filipe e Agostina Leal partiram num projecto a dois, já casados, para Moçambique, entre Setembro de 2004 e Novembro de 2006.


Em Portugal, antes de partir, Agostina lecionava e terminava a licenciatura em Ciências Religiosas, enquanto que Filipe Leal na área da música, estudava e dava aulas também, conciliando a sua participação em coros profissionais.


Em Moçambique, na província de Inhambane, na missão de Napinhane, Agostina passou a dar aulas de Educação Moral e Psicologia, numa Escola secundária dirigida pelas Irmãs Agostinianas, e, em parceria com os Leigos em Portugal, fazia o trabalho de “apadrinhamento dos alunos que são apoiados por portugueses”. Filipe estava encarregue da logística da missão, da pastoral - apoio aos catequistas e de formação. Seis meses depois da sua chegada, ajudaram na abertura das duas primeiras escolas infantis de Napinhane.


Ao partirem, deixaram tudo. Para trás ficou o estudo, a leccionação, os coros “e partimos”, explica Agostina Leal à Agência ECCLESIA. Com o projecto de fazer dois anos de missão, findando o prazo, o casal regressou, já com Agostina grávida.


Ao regressar contaram com a ajuda por parte dos Leigos Missionários da Consolata, que disponibilizam uma verba para dar apoio aos seus missionários no regresso.


Actualmente Filipe e Agostina Leal são pais de uma criança de cinco meses. Em Moçambique ficou uma realidade que guardam, um trabalho que ajudaram a desenvolver, mas muito ainda para fazer.


Muitos testemunhos de voluntários demonstram o encanto da doação, o despojamento do ir, o tempo aos outros, apesar de muitos apontarem também a falta de apoios ao seu reestabelecimento no regresso. Questões ainda a responder, mas sem dúvida, experiências que não se esquecem, apesar da realidade tão diferente que o Ocidente oferece.


Notícia daqui.

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