Há 25 anos, já sem um seio, criou um movimento de apoio a mulheres mastectomizadas, incitada por uma frase que leu num escaparate: "A amputação do seio não é o fim." Desde então, servindo-se do seu testemunho, tem levado palavras de conforto e de esperança a mulheres que se encontram em igual situação
Afável, sorridente, Maria Augusta Amado é uma mulher feliz. Com uma jovialidade que contagia, sobe a escadaria da sua moradia, em Vila Nova de Gaia, contempla as rosas, passa a mão sobre o pêlo sedoso do cão de raça Labrador e folheia o livro de sua autoria, acabado de ser publicado: Acasos da Minha Vida.
No despetalar da sua existência, esta mulher desprovida de dois seios conta que tudo lhe aconteceu de bom, "que Deus tem um projecto para cada pessoa". Todavia, assinala, "nós somos muito daquilo que os outros nos dão". É já a voz da fundadora do "Movimento Vencer e Viver" lançado no Porto há 25 anos, após a Maria Augusta Amado lhe ter sido encontrado um carcinoma maligno no seio, em 1979.
"Na altura trabalhava no PBX da empresa do meu marido, a 'Gaiauto', que praticamente estava falida, devido à má gestão de quem nela trabalhava", alega. "Não entendia nada de automóveis, mas em dois meses a firma duplicou de produtividade. Fui operada ao cancro da mama e pensei: Agora que tenho filhos é que vou morrer?
"Dois anos após, no escaparate de um supermercado, leu numa revista: "A amputação do seio não é o fim." Foi o início do voluntariado.
Contactos com o meio clínico, formação de uma liga de voluntárias, cursos, visitas a unidades hospitalares, começou por corporizar uma actividade intensa, a par do trabalho de casa, do apoio aos filhos, então menores e do empenho na empresa.
Por mero acaso tomou conhecimento da existência do Reach to Recovery International, nascido nos Estados Unidos há 52 anos e sem representação no nosso País. Com o desafio da Liga Portuguesa Contra o Cancro e viagens ao estrangeiro numa auto-caravana, Maria Augusta Amado inspirou-se nesse empenhamento e trouxe para Portugal o "Movimento Vencer e Viver", em 1982. Actualmente, 50 voluntárias do Núcleo Regional do Norte apoiam mais de oito mil mulheres por ano, com cancro na mama."
Os médicos já não dispensam as nossas voluntárias. Todas elas já passaram por cancro na mama, o que melhor lhes permite transmitir esperança. A palavra é tudo. A experiência ajuda, e de que maneira...
"No início, lembra, "nem próteses havia a vender em Portugal". Oficializado o movimento "por ordem de serviço", acentua, o recrutamento foi crescendo, "sempre, sempre com aquela vontade de ajudar através do testemunho próprio. A técnica, no contacto com a doente, auxilia, mas não basta". O cartão de apresentação, diz, é este: "Estou aqui, porque tive o mesmo problema; compreendo o que está a sentir."
Maria Augusta Amado confessa ser uma mulher de fé. "Quando Deus chama certa pessoa para cumprir uma missão, dá-lhe os carismas necessários. Se algum mérito tive, foi o de estar atenta. E não é só meu, também é das mulheres que comigo trabalham no voluntariado."
Frontal, declara: "Recebo muito mais daquilo que dou. Aprendo a viver o momento presente, não ter preocupação exagerada com o futuro." Em Novembro de 2005 teve de ser operada à tiróide. Há dois anos, novo cancro. Depois, em 2006, a segunda mastectomia. Nas três semanas que antecederam a cirurgia, decidiu escrever o livro, "não a título de protagonismo", mas porque desejava divulgar as suas vivências. "Difícil foi fazer a revisão dos textos, devido aos tratamentos de quimioterapia e de radioterapia." Contudo, Acasos da Minha Vida foi colocado à venda, reflectindo "a minha alegria, uma alegria independente do que me possa acontecer".
Já sem os dois seios, a coordenadora do movimento conclui: "Tenho confiança. Não vamos chorar por conta do dia em que vamos morrer."
Notícia daqui.
1 comentário:
São exemplos como este que nos fazem ir em frente na vida quando as dificuldades aparecem.
E são também exemplos como estes que nos levam a entregar o nosso tempo a ajudar os outros.
beijos em Cristo
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