12/11/07

Um Mundo de dúvidas com 40 mil ONG

Ninguém sabe ao certo quantas organizações não governamentais (ONG) se dedicam à ajuda ao desenvolvimento em África.
Há estimativas que apontam para 40 mil ONG internacionais, mas o número real, o dinheiro movimentado, os seus efeitos, tudo isto é matéria de especulação. O que se sabe é que, por vezes, ONG envolvidas em ajuda humanitária surgem nas notícias pelos piores motivos, como no caso da Arca de Zoé, grupo que tentou levar 103 crianças do Chade para França, alegando que se tratava de órfãos do Darfur.
Esta história motivou uma reacção do Governo chadiano e não foi a primeira vez que uma ONG excedeu os limites. Há outros exemplos. Em Março de 2006, o Governo da Eritreia expulsou várias agências, incluindo nomes sólidos. Um terço do país passava fome e estas organizações davam comida a mais de 1,3 milhões de pessoas. Dois anos antes, o Gana colocou centenas de organizações na lista negra.
Das três mil activas, apenas 150 cumpriam as regras do país, apresentando relatórios sobre as suas actividades às autoridades locais. Num continente marcado pela violência, são frequentes os episódios de rebeldes a atacarem ONG, com vítimas entre os voluntários.
A realidade das ONG em África é complexa. Os críticos afirmam que 60% do dinheiro enviado acaba nos bolsos de elites corruptas. Há mesmo quem diga que o verdadeiro problema de África é a ajuda humanitária (grandes burocracias, corrupção, o fim da iniciativa, mercados locais enfraquecidos).
O economista William Easterly, no seu livro O Fardo do Homem Branco, estima em 2,3 biliões de dólares (dez vezes o PIB português) o dinheiro investido em ajuda humanitária nos últimos 50 anos, para poucos resultados. Em 2005, a ajuda internacional foi superior a 106 mil milhões de dólares, segundo estimativa da ONU. Outro economista, Jeffrey Sachs, contesta o pessimismo de visões como a de Easterly.
Em 2002, cada habitante da África subsariana recebeu apenas 12 dólares de ajuda, contabilizou Sachs. Por ser uma discussão tão política, o mundo das ONG é difícil de avaliar.
Quantas pessoas morreriam sem a acção dos Médicos Sem Fronteiras, ou da Oxfam, ou do PAM? E quanto valem essas vidas? E por que razão algumas crises recebem mais do que outras? Em 1999, a ONU gastou 207 dólares por cada pessoa afectada no Kosovo e apenas oito dólares por cada vítima no Congo.
O interesse dos media e os interesses nacionais jogam um papel na definição das prioridades, mas sem a acção de milhares de voluntários ao serviço de ONG, grandes e pequenas, a mortalidade infantil africana seria ainda maior e haveria muitos milhões adicionais de pessoas a passarem fome.

09.11.2007 Fonte: Diário de Notícias

Sem comentários: