23/12/07

A propósito do Dia Mundial do Voluntariado


Comemorou-se, na passada quarta-feira, o Dia Mundial do Voluntariado. Assim acontece desde 5 de Dezembro de 1985, há precisamente vinte e dois anos.


De acordo com a definição das Nações Unidas, “o voluntário é o jovem ou o adulto que, devido ao seu interesse pessoal e ao seu espírito crítico, dedica parte do tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de actividade de bem estar social ou outros campos de intervenção”.


A Declaração Universal do Voluntariado de 1990 proclamou “a fé na acção voluntária, força criadora e mediadora com vista à contribuição para a resolução dos problemas sociais e do ambiente e à construção de uma sociedade mais humana e mais justa”.


Apesar de tão recente reconhecimento, sabe-se que o voluntariado é uma prática tão antiga como a própria Humanidade, com origens particularmente religiosas. Três mil anos antes de Cristo existiam nas margens do Nilo, o grande rio de África, sistemas de protecção mútua que funcionavam em casos de inundações e catástrofes climáticas; na Palestina, na costa ocidental do mesmo continente, funcionavam já associações de mercadores que mutuamente se juntavam para proteger as caravanas dos assaltos.


O investigador Domingos Cruz, no trabalho “A mutualidade em Portugal”, faz recuar, entre nós, esta “tradição de previdência” aos compromissos marítimos da época fernandina (1367 – 1383), assinalando a existência de “associações populares de índole de socorro mútuo”, espalhadas por todo o país, identificando-as com “as antigas irmandades e confrarias, nas quais os vizinhos se inscrevem, mediante uma pequena quota, para uma assistência mútua espiritual dos irmãos, dos consócios que acompanham o funeral do falecido e mandam rezar por sua alma umas tantas orações e missas”.


A acção estendia-se, desempenhando uma acção assistencial de auxílio mútuo entre os componentes que se encontrassem em circunstâncias difíceis. As Misericórdias, criadas na agonia do século XV pela iniciativa da Rainha D. Leonor, agigantaram-se na prática de apoio aos doentes e necessitados e terão sido, talvez, as únicas instituições a resistirem às consequências da instauração do regime constitucional, em 1834, já que a monarquia liberal pôs fim a todos aqueles movimentos - naturalmente porque quase exclusivamente ligados à Igreja, vítima, então de conhecidas perseguições - sem se preocupar com a criação de organismos que aproveitassem os ideais de generosidade das populações.


Contra tal estado de coisas, e pela mão de cidadãos inquietados pelas circunstâncias de miséria e abandono em que vivia grande parte da população portuguesa, naturalmente sob o impulso das correntes de ideais que agitavam a Europa, foram-se erguendo, a partir de meados do século XIX, aquelas que viriam a designar-se Associações de Socorros Mútuos, a quem coube um vasto leque de atribuições de carácter solidário, visando prioritariamente a melhoria da trágica situação das classes trabalhadoras.Um movimento que chegou também ao nosso concelho, surgindo, em 8 de Junho de 1884, a Associação de Socorros Mútuos de Santiago de Riba-Ul. Primeiramente em instalações provisórias, viria a dispor, a partir de 1939, de edifício construído de raiz para o efeito, de concepção e qualidade notáveis para a época. Tudo pelo esforço e generosidade de Camilo Pacheco da Costa Ferreira, popularmente conhecido por Camilo da Fábrica, porque proprietário de uma fábrica de curtumes no local a que, por isso mesmo, ainda hoje chamamos Alto da Fábrica, próximo da linha de fronteira entre a cidade e Santiago de Riba-Ul.


(Trata-se de um generoso benemérito, talvez injustamente esquecido, a quem não foi prestada ainda a devida homenagem. Para além de uma intensa actividade ao serviço da Câmara, a cujo Executivo presidiu, então sem qualquer outra recompensa para além do sentimento do dever cumprido, devem-lhe Santiago e o concelho a prática de bem-fazer de toda uma vida, agigantando-se o esforço em prol da Misericórdia, subsidiando-a para que pudesse iniciar a actividade, e a abnegação pelo antigo Asilo da Infância Desvalida, que serviu em tempos difíceis, oferecendo o terreno, na Rua de Manuel Alegria, onde foi construída a primeira sede própria).


A criação das primitivas Caixas de Previdência e de outros esquemas de apoio na doença vieram a determinar a cessação da actividade da Associação de Socorros Mútuos de Santiago, de que foram amigos e desprendidos servidores o Dr. António Joaquim de Freitas e seu filho Dr. Ilídio Cardoso de Freitas. As instalações estão ao serviço da Junta de Freguesia, no sector do apoio à infância, cumprindo-se assim, ainda que ajustados aos novos anseios das populações, os nobres propósitos de Camilo da Fábrica.


Volvidos duzentos anos sobre o momento em que se verificou um maior crescimento das organizações de voluntários – nascidas pela ineficácia do Estado na resposta aos graves problemas sociais – continua a encarar-se o trabalho voluntário como um dever dos cidadãos para com esse mesmo Estado, que ainda não encontrou soluções para enfrentar os crescentes dramas das novas sociedades.


Nas últimas décadas, multiplicaram-se por todo o país Instituições Particulares de Solidariedade Social, ocupando o nosso concelho lugar cimeiro na quantidade, na qualidade e na dinâmica. Contudo, e apesar de criado, já lá vão sete anos, o Conselho Nacional da Promoção do Voluntariado, continua a aguardar-se uma política nacional de salvaguarda dos ignorados direitos dos voluntários e de sensibilização da sociedade para a importância da sua acção.


Opinião do Prof. António Magalhães, Fundador e impulsionador, desde há dezasseis anos, da Associação de Solidariedade Social de Loureiro – com as valências de creche, jardim-de-infância, centro de dia e apoio domiciliário, e mais um lar na “rampa de lançamento” – António Pinho entendeu chegado o momento da retirada, decidindo não se recandidatar a novo mandato. O exemplo de dedicação e entrega será luzeiro a iluminar a rota daqueles a quem foram entregues os destinos da dinâmica Associação.


Opinião daqui.

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