13/06/14

O voluntariado escravo recrutado pela Fifa

Caro  leitor, você de bom grado que é, altruísta, caridoso, amigo; toparia trabalhar de graça para uma empresa bilionária? Suponhamos que Bill Gates ou Eike Batista, nosso ainda bilionário brasileiro, o convocasse para ser voluntário em suas empresas. Você aceitaria numa boa? Bem definido que seria um trabalho gracioso, sem vínculo empregatício, sem nenhuma chance de um dia ser contratado por uma dessas empresas privadas. O conceito de voluntariado ou trabalho voluntário é a dedicação de uma pessoa ou grupo em prol de outras pessoas ou entidade com fins estritamente humanitários, que não visa lucros. São bons exemplos a cruz vermelha, os médicos sem fronteiras, os anjos (médicos e para médicos) do asfalto entre outros.
Embutido, portanto, neste sentido está o livre-arbítrio ou espontânea vontade de quem se dispõe a expender os seus esforços em prol de outros. A legislação brasileira disciplina as relações de trabalho. Qualquer trabalho escravo ou análogo a este é vedado pela constituição. Mas, deixemos este tema numa memória de espera, e retomemo-lo ao fim desta matéria.
Falemos de algo que está em proeminência  no momento. Em tempos de copa do mundo a Fifa é um órgão tão repetido como mandatária maior do futebol que todos sabem do seu papel neste esporte. No mundo todo ela é a dona da bola e ninguém tasca. Ela se enquadra naquele batido princípio, se precisar ela prende, ela solta e não tem conversa. Ou faz-se o que ela dita ou nada feito.
Prova maior de sua tirania e intransigência na realização de torneios de futebol  foram suas exigências na construção das chamadas arenas para a Copa Brasil Fifa 2014. Fora a modernização dos aeroportos, vias de acesso para os estádios e outras infraestruturas no chamado padrão Fifa. Ou o país cumpria estas metas ou perdia o direito de sediar o tão cobiçado torneio quadrienal de futebol.
Como tudo exagerado tem efeitos colaterais, no caso da construção dos nababescos estádios (arenas) por imposição da poderosa Fifa, a regra seguiu a risca. Diante de vultosos gastos pelo governo o que se viu foram protestos e mais protestos das pessoas Brasil a fora. Ora bolas , se o país tem bilhões para sediar um torneio de futebol que dura 30 dias, num total de 64 jogos, por que serviços permanentes  tão vitais como saúde, educação, segurança e transporte coletivo estão sucateados e com padrão de terceiro mundo? Boa pergunta e oportuna provocação do povo brasileiro. Afinal nem  só de futebol vive o brasileiro, mas sim de saúde de bom padrão, alimentos à mesa, transporte, educação, segurança etc.
A reivindicação é simples e objetiva: queremos escolas, hospitais e transporte padrão Fifa. Nada mais conseqüente e natural. Se a Fifa impõe e o governo petista de Lula e Dilma faz por que não podemos exigir os mesmos serviços públicos da mesma qualidade? É natural tal exigência da sociedade.
Bem além desta polêmica e contestada questão de tantos gastos na realização da copa Fifa 2014 no Brasil, uma outra questão que a imprensa e autoridades não têm trazido à discussão refere-se ao trabalho dos voluntários para a tão poderosa e bilionária gestora do futebol no planeta. E então eu torno à questão. Se existe alguém ou autoridade que ainda não se pronunciou eu dou o pontapé inicial. Se alguma pessoa já o fez eu me alio a ela e façamos então um protesto sobre esse trabalho que a Fifa recruta, graciosamente, junto a milhares de pessoas que se dispõem a trabalhar sem remuneração  para um órgão privado que fatura bilhões de dólares por ano! Só em 2014, os lucros estimados da Fifa serão de 10 bilhões de reais .
O que é um voluntariado? Como definido pela própria ONU, é um trabalho de altruísmo, de filantropia ou solidariedade, voltado a atender às necessidade de pessoas carentes, doentes, ou sob qualquer risco; trabalho este sem remuneração ou vínculo empregatício, por puro espírito cívico e vocação voltada ao bem de nosso próximo e semelhante.
Pergunto eu; que necessidade tem a Fifa de recrutar  filantropia e solidariedade de outras pessoas? Aliás, é oportuna uma segunda pergunta: a nossa poderosa e intransigente gestora e legisladora do futebol tem algum trabalho de filantropia e benefício social no mundo? Se o tem que nos mostre, porque já seria um lado virtuoso de seus dirigentes. A mim me parece que, os milhares de voluntários que a entidade “alicia” para um trabalho não pago, são atraídos como um engodo e como exploração análoga a serviço escravo. Com que justificativa a entidade recruta tanta gente para um trabalho não remunerado? Nesta copa 2014, são 15 mil voluntários , entre brasileiros e estrangeiros.
Todo esse pessoal do voluntariado Fifa deveria ser nos moldes de um trabalho temporário, como ocorre por exemplo em outras empresas, em passagem de natal e ano novo. Para esses trabalhos temporários, nossas autoridades e leis não são nada brandas. Que seja um emprego por 15 ou 30 dias, exige-se legalização, remuneração justo e recolhimento de impostos .
Por que as leis e a justiça têm que ser lenientes e tolerantes com um órgão privado como a Fifa que fatura bilhões com o futebol? Com a palavra o governo de Lula/Dilma e as autoridades trabalhistas do Brasil. O que pensam nossos ministros do TST e OIT ( organização internacional do trabalho ) ?        
(João Joaquim, médico, cronista do DM - joaomedicina.ufg@gmail.com)
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